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A mostrar mensagens de setembro, 2017

Aljezur

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   Vivia numa terra tão pequena que até as depressões eram insignificantes. Ou seja, eram insignificantes aos olhos dos outros, porque para si era coisa de monta. Como a terra. Só os nativos lhe davam a importãncia que os transeuntes ocasionais objectivamente lhe negavam. Era apenas uma terreola. Insignificante. Mas mesmo as depressões das terreolas insignificantes causam grande mossa em quem as sofre, e esta levou ao suicídio. Ou à tentativa de suicídio.    Tentou atirar-se para debaixo do comboio, mas ali não havia caminho de ferro.    Atirou-se da ponte abaixo mas era tão baixinha que mal conseguiu torcer um tornozelo.    Tentou afogar-se no rio, mas a água era tão pouca que mal dava pela barriga dos patos.    Atirou-se para a frente de um camião, mas o trânsito era tão lento que todos pararam a tempo e nem um arranhão sofreu.    Tentou enforcar-se numa árvore, mas só encontrou figueiras cujos ramos dobraram até o depositar gentilmente no chão.    Tentou envenenar-se, mas anos conse

Passeio no Parque

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   Confesso. Sou um fraco, sem vontade própria, curvado à vontade de outrem, um invertebrado, um flácido. Só assim se explica que me tenham convencido a ir às compras a uma superfície comercial. Poderia inventar uma justificação se tivesse frequentado um supermercado. Alguma coisa máscula e viril, como "fui comprar 3 grades de cerveja para beber antes do jantar" ou "acabou-se-me o tabaco de mascar" ou até "precisei de comprar uma pedra de amolar para afiar a minha faca-de-mato". Infelizmente o termo "superfície comercial", outrora tão abrangente que podia significar qualquer área onde se praticasse a nobre arte do comércio, refere-se hoje a estabelecimentos pimpões e elegantemente decorados, onde se vende de tudo, desde meias de seda para a perna da donzela mais delicada até tartarugas de estimação. De tudo, menos facas de mato e tabaco de mascar. E raramente grades de cerveja.    Pois foi a um desses estabelecimentos, nem supermercado nem centro