Aljezur
Vivia numa terra tão pequena que até as depressões eram insignificantes. Ou seja, eram insignificantes aos olhos dos outros, porque para si era coisa de monta. Como a terra. Só os nativos lhe davam a importãncia que os transeuntes ocasionais objectivamente lhe negavam. Era apenas uma terreola. Insignificante. Mas mesmo as depressões das terreolas insignificantes causam grande mossa em quem as sofre, e esta levou ao suicídio. Ou à tentativa de suicídio.
Tentou atirar-se para debaixo do comboio, mas ali não havia caminho de ferro.
Atirou-se da ponte abaixo mas era tão baixinha que mal conseguiu torcer um tornozelo.
Tentou afogar-se no rio, mas a água era tão pouca que mal dava pela barriga dos patos.
Atirou-se para a frente de um camião, mas o trânsito era tão lento que todos pararam a tempo e nem um arranhão sofreu.
Tentou enforcar-se numa árvore, mas só encontrou figueiras cujos ramos dobraram até o depositar gentilmente no chão.
Tentou envenenar-se, mas anos consecutivos a almoçar nos restaurantes locais tornaram-no imune a inconveniências de estômago.
Em desepero de causa contactou o Gabinete de Apoio ao Suicídio, que dava localmente pelo nome pomposo de GAS, o qual, na melhor tradição local, lhe recomendou uma formação, em forma de workshop, com 12 horas presenciais e 7 de trabalho individual, do qual devia depois apresentar um trabalho em powerpoint, se sobrevivesse. Foi logo avisado que, se sobrevivesse não teria aproveitamento, dada a natureza da formação. Mas não foi necessário: os formadores eram tão bons e eficazes que nenhum compareceu.
Perante este panorama desolador resignou-se a ser feliz em Aljezur.
deprimi. tenho de sair daqui. :)
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