A lagarta antropófaga
Como formigas diligentes enfileiram monocordicamente seguindo o caminho inconscientemente memorizado. Como um rebanho bem amestrado avançam coordenadamente, todos ao mesmo passo, pelo cais, amontoando-se até se pisarem uns aos outros. Como um bando de pombos entrando pelo pombal, invadem a carruagem procurando um lugar sentado, o melhor lugar, à janela, virado para a frente. Quando o comboio finalmente parte, seguem em silêncio enfronhados nos smartphones, folheando os jornais desportivos ou ouvindo privadamente música, no silêncio dos seus auscultadores, fila após fila de ninguéns, destinados a coisa nenhuma, preenchendo os dias finitos de uma existência pré-determinada pelas suas incumbências e necessidades artificiais. E contudo... A rapariga de óculos sentada junto à coxia, que abana imperceptivelmente a cabeça ao som de uma música que só ela ouve, é campeã de ginástica acrobática. Duas filas atrás, a senhora que olha absorta as suas mãos cruzadas sobre o