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A mostrar mensagens de junho, 2015

O Pai do Vento

   Esta é uma história clássica. Há muito tempo que não a oiço, e se calhar não sou o único. Para que não se perca esta pérola da tradição oral do nosso país, registo-a aqui para a posteridade.    Final de Maio na aldeia de Vinhozes, concelho de Viana do Alentejo. Está alegre, a localidade, embora pequena como sempre. O final da tarde de domingo está quente, mas nem de perto tão quente como virá a estar dali a dois meses. Suficientemente quente para que os aldeões se juntem na praça, debaixo do velho carvalho. Conversa-se, joga-se à sueca, um grupo de novos e velhos entoam os cantares típicos, entremeados com copos de tinto e fatias de presunto do ano anterior. Risos, cantigas, dichotes, é a alegria generalizada. A alegria genuína de quem não tem outro motivo se não um tempo agradável e a companhia dos amigos e familiares. Até o avô Bernardo foi desenterrar o velho acordeão, o qual vai tocando desafinadamente, quando o grupo coral pausa. Há crianças a correr, a jogar à bola e a andar d

Eleanor Rigby

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Fui à praia.   No meio da praia estava uma pedra.   A pedra não era grande nem era pequena. Não era preta nem colorida. Não era um seixo nem era uma rocha. Não era basalto, nem granito nem calcário. Não tinha lapas, nem limos nem caracóis do mar. Não tinha buracos nem arestas. Era uma pedra e estava sozinha no meio da praia.   Sentei-me com ela. Não me sentei em cima dela, embora o pudesse ter feito: não tinha buracos nem arestas nem limos, e não era demasiado pequena ou demasiado grande. Mas sentei-me com ela e a pedra sorriu-me.   Não lhe liguei, mas não me levantei. E a pedra também não. Ali ficámos, lado a lado, a olhar a areia e as dunas, de costas para o mar.   E a pedra disse-me:   - Sinto-me sozinho.   Não perguntei porquê. Não costumo falar com pedras, ainda menos desconhecidas, mas não me levantei.   - Não sinto frio nem sinto dor, mas sinto-me sozinho. Não sei como vim parar ao meio deste areal. Acho que sempre aqui estive, escondido debaixo da areia, mas agora que me descob