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A mostrar mensagens de julho, 2015

Malapata

    A vida corre-me mal.    Não é de agora, já dura há algum tempo: problemas em casa, dificuldades no trabalho, complicações de saúde, o Jorge Jesus no Sporting, tudo chatices. Para já não falar na minha vida sexual... Dizem que quem tem azar ao jogo tem sorte no amor, mas asseguro-vos que não passa de superstição das mais tolas. Eu tenho azar em ambos.    Enfim, algo precisa de ser feito e já comecei a tratar disso. É evidentemente um caso agudo de má sorte, por isso comecei a usar com frequência expressões como "valha-me Deus" e "minha Nossa Senhora" na esperança de alterar o meu fado por intervenção divina. Nada feito. Aparentemente, devoção interesseira de última hora não é solução. Desenganem-se todos vós que ides à igreja depois de pecar: perdeis o vosso tempo. Então comprei um desses livros do tipo auto-ajuda, mas era tão disparatado que não passei do 1º capítulo. E a má sorte continuou: problemas com o carro, discussões com o vizinho e um pé torcido.    Alt

A sereia no cimo do bolo

Ariel, a sereiazinha, tem hoje 36 anos, e começa a questionar-se sobre a sua vida. Está naquela idade em que não sabe se há de ir ou há de ficar, e tudo aquilo que sempre aceitou com naturalidade lhe faz agora confusão. Tem dúvidas existencialistas, não sabe bem quem é. E o facto de ser sereia não ajuda: Não sabe se lhe dói a coluna ou tem dores na espinha; Não sabe se há de ir à esteticista depilar as axilas ou à peixaria escamar as pernas; Se está na idade de ter filhos ou pôr ovas; Onde comprar um monoquini que seja só a parte de cima em vez da parte de baixo; E como escasseiam os príncipes que queiram sereias de 36 anos, arrisca-se acabar num menu de restaurante: "mista de carne e peixe".

La luette

    Foi na sexta-feira, se não me engano. Vinha a descer a rua e tropecei. Rapidamente percebi que não tropecei: fui rasteirado. Não se passa uma vida a jogar à bola sem perceber imediatamente a diferença. Reequilibrei-me e voltei-me para trás para ver quem era o engraçadinho. A princípio não vi ninguém, mas depois prestei mais atenção e lá estava ela, com ar trocista. Uma úvula. Dirão que as úvulas não podem ter ares trocistas, mas isso são aqueles que também diriam que as úvulas não passam rasteiras, e aquela tinha-me rasteirado. E tinha um ar trocista. E uma baguette debaixo da axila, o que me fez crer que era uma úvula francesa. Une uvule. Irritou-me aquele ar de desafio e ia esborrachá-la com o calcanhar, só por vingança, mas algo me fez hesitar. Sem perceber bem porquê apanhei-a do chão e levei-a para casa. Para a minha casa,a dela não sabia onde era. Foi só depois de a ter em cima da mesa da sala, numa caixinha forrada com papel de alumínio, que comecei a questionar o porquê de