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A mostrar mensagens de dezembro, 2015

Conto de Natal

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    Era já dia 23, mas os Coutinhos não puderam despachar-se mais cedo para ir passar o Natal com a família à terra, como faziam todos os anos desde que se haviam mudado para Lisboa. Havia mais de uma dúzia de anos que a mudança acontecera, ainda os Coutinhos mais novos não haviam nascido. Saíram alfacinhas, ao contrário dos progenitores, beirões de Fornos de Algodres. E para Fornos de Algodres se dirigiam neste 23 de Dezembro, quase dia de consoada, para passar as Festas com pais, avós, tios e sobrinhos. As últimas horas foram passadas nos centros comerciais, em busca do cachecol para o tio e daquele brinquedo para o sobrinho, que em Fornos a variedade é pouca, e quem vem da capital é quase como se viesse de França: tem que trazer algo de novo e caro, para mostrar como corre bem a vida. Enfim, as formalidades aquisitórias cumpridas, estavam já a caminho, imbuídos de espírito natalício, discutindo quantas ovelhas devia levar o presépio e cantando canções de Natal. Foi até o Coutinho ma

A minha herança

Tudo aconteceu inopinadamente. Diria mesmo: de supetão! Um dia fui ao multibanco e constatei que o meu saldo tinha aumentado. Acontece aproximadamente uma vez por mês (nos meses bons) mas como neste mês já tinha acontecido, foi uma agradável e inesperada surpresa. E deixou-me preocupado. Quando a esmola é muita, o pobre desconfia, e eu sou paupérrimo e muitíssimo desconfiado. Fui investigar de onde vinha tamanho crédito, certamente imerecido, e o que descobri deixou-me perplexo. Resolvi postar (é um verbo novo, descobri na internet) o resultado da minha investigação para elucidar os menos iluminados cujas contas bancárias sejam menos constantes na sua tendência depletante (é um anglicismo; fui ver à internet), e que poderão não notar estes aumentos súbitos. Aqui está o que descobri: O governo Sírio resolveu compensar os países que acolheram os seus cidadão desfavorecidos. Em troca do tecto, mesa e roupa lavada, e educação e assistência médica e liberdade religiosa e autorização para d

Didáctica das Línguas Estrangeiras

Foi a ver o filme do Cristiano Reinaldo que me apercebi de quanto o futebol tem a ver com a aprendizagem das línguas estrangeiras. Na verdade são até muito parecidos. Só estranho que nunca ninguém tenha reparado, mas para colmatar essas falhas cá estou eu. Depois de muito reflectir elaborei um compêndio que estou disposto a partilhar para benefício da humanidade. Para o dar a conhecer é que não sei se deva escrever um livro, publicar um ensaio ou dar um seminário ou uma conferência. Talvez um workshop.  Se conseguir musicá-lo vou fazer um doutoramento. PRÉ-REQUISITOS Os pré-requisitos são muito importantes. Na verdade, são até os mais importantes de todos. De nada valem os requisitos sem os prés. E os pré-requisitos são também simples. Resumem-se a isto: ou se tem jeito, ou não se tem. Como o Ronaldo. É verdade que trabalha muito, treina muito todos os dias e aprendeu muito com os treinadores e nas equipas onde jogou, mas bem no fundo, no fundo, o puto tem é jeito para aquilo. Há outro

No Princípio Era o Verbo - Uma verborreia verbal de Verboso da Silva

   Era uma vez um tempo verbal que se sentia muito sozinho.    Este tempo verbal viveu há muito tempo, no tempo em que os tempos verbais falavam, e chamava-se Passé Composé. Era filho de uma família muito poderosa, os Composés. Mas o menino Passé tinha tido uma zanga muito grande com a família Composé, pois estes estavam sempre em guerra com uma outra família, os Conditionnels.    Ora o menino Passé Composé tinha um grande amigo, que era o Futur Conditionnel, e defendia sempre o seu amigo Futur nas zangas domésticas dos Composés.    Um dia ele enervou-se e disse com maus modos para o seu irmão mais velho, o Futur Composé:    - Vai mas é para o subjontif!    Ora o mano mais velho não gostou nada que o menino Passé lhe tivesse falado daquele modo, e então disse-lhe:    - Vais imediatamente para o teu quarto e de castigo não levas complément direct.    Isto enervou ainda mais o menino Passé, que perdeu imediatamente o auxiliar e gritou:    -Grandecíssimo indicatif! Filho de um impératif!