Didáctica das Línguas Estrangeiras

Foi a ver o filme do Cristiano Reinaldo que me apercebi de quanto o futebol tem a ver com a aprendizagem das línguas estrangeiras. Na verdade são até muito parecidos. Só estranho que nunca ninguém tenha reparado, mas para colmatar essas falhas cá estou eu. Depois de muito reflectir elaborei um compêndio que estou disposto a partilhar para benefício da humanidade. Para o dar a conhecer é que não sei se deva escrever um livro, publicar um ensaio ou dar um seminário ou uma conferência. Talvez um workshop. 
Se conseguir musicá-lo vou fazer um doutoramento.

PRÉ-REQUISITOS
Os pré-requisitos são muito importantes. Na verdade, são até os mais importantes de todos. De nada valem os requisitos sem os prés. E os pré-requisitos são também simples. Resumem-se a isto: ou se tem jeito, ou não se tem. Como o Ronaldo. É verdade que trabalha muito, treina muito todos os dias e aprendeu muito com os treinadores e nas equipas onde jogou, mas bem no fundo, no fundo, o puto tem é jeito para aquilo. Há outros que treinam e não são os melhores do mundo. Nem lá perto. E nas línguas é igual. Há quem consiga perceber o que ouve sem sequer pensar nisso e há quem consiga falar sem se atrapalhar. Os demais estão tramados.

PÓS-REQUISITOS
Depois dos pré-requisitos há outros requesitos, que, não sendo pré, são importantes. Estes não são inatos, embora às vezes pareçam. Chamo-lhes "exposição à língua". Fui eu quem inventou o nome. Vou patenteá-lo. 
O princípio também é simples: é fazer tanto duma coisa que nos saia pelos olhos. Como jogar à bola. Como o CR7 provou, é completamente válido baldarmo-nos às aulas para ir jogar à bola. E ir ao café ver os jogos. E coleccionar os cromos e jogar na PS3. Desde que mais tarde tudo isso dê os seus frutos e possamos comprar um Lamborghini.
Ou baldarmo-nos às aulas para ir à praia engatar bifas. Aprende-se muito e a necessidade aguça o engenho: quando vamos a ver já falamos inglês. "Put a cream on". Mas nem toda a gente vive perto da praia (com bifas), e porque de pequenino é que se torce o pepino, fundamental é mesmo (além do amor) ver TV com legendas e ouvir os Queen em vez do Tony Carreira. Em estrangeiro. Muitas vezes. Até que nos saia pelos olhos.

DOMÍNIOS E COMPETÊNCIAS
Os domínios são muito importantes, ao contrário das competências. Como sabemos, há 40 anos que somos dominados por incompetentes. 
No caso das línguas estrangeiras o domínio mais difícil é o Falar. O Falar é o ponta-de-lança das línguas. Trata-se de executar com eficácia e sem demoras. Não há tempo para hesitações porque o adversário rouba a bola, ou a conversa. Tem que ser tudo feito no momento e sem pensar, mesmo que às vezes saia asneira.
O Ouvir é o que joga atrás do Falar. Tem que estar atento, não perder pitada do que se passa à sua volta. Gestos, entoações, ler nos lábios, controlar os adversários, saber esperar e segurar a bola antes de passar ao Falar, com segurança e em condições, para que este não ponha o pé na argola.
O Ler joga cá atrás. Com calma, tem todo o tempo do mundo para olhar em volta, estudar o jogo, controlar tudo e todos e preparar o que se vai passar a seguir. Com muita tranquilidade. Se for preciso até pode vir pedir instruções ao banco. Antes isso que fazer um trabalho mal feito. Está sempre desmarcado, sem pressões, a fazer a leitura. Do jogo.
O Escrever é o carregador de piano. Tem a responsabilidade de produzir jogo, sem a desculpa de se poder enganar. Não joga pressionado. Pode parar, esperar, voltar atrás e seguir por outro caminho, se achar melhor. Mas tem a obrigação de levar a coisa para a frente, com segurança e eficácia.

METODOLOGIAS E ESTRATÉGIAS
Mesmo com pré e pós-requisitos, continua a haver necessidade de treino e trabalho. Como o Reinaldo. Pode ser o melhor do mundo, mas nem por isso está dispensado dos treinos. Nem todo o seu jeito o dispensa. E tem que ir ao ginásio para manter a forma. Muitos abdominais, flexões e corridas. É a leitura. Para aprender uma língua é preciso ler sempre. Muito. E é preciso treinar muito com bola. Dribles, passes, fintas, remates... É a gramática. São os verbos, os plurais e as negativas. E mesmo o nosso Cristiano, o melhor do mundo, que escreveu o livro e é um sobredotado treina tudo isso. Treina tanto que se conta que continuava a treinar mesmo depois do treino terminar.

CONCLUSÕES
As conclusões são conclusivas e finais: ninguém nasce ensinado, mas dá muito jeito estar geneticamente predisposto. Toda a gente pode aprender a falar uma língua estrangeira. Melhor ou pior, mais depressa ou mais devagar, mas todos conseguem. O mundo está cheio de gente que fala espanhol, inglês ou mandarim e a maioria deles nem sequer são muito espertos. E também está cheio de gente que joga à bola. Nos estádios, na rua ou na praia. Com sapatilhas da Nike ou com bolas de trapos e às vezes com latas de cerveja. E são esses, que jogam por gosto, quem joga melhor. É daí que vêm os Cristianos Reinaldos. E nunca se fala melhor inglês que num bar depois de umas quantas cervejas. Porque é de vontade e sem reticências. Se nos enfrascarmos todos os dias,  mais cedo ou mais tarde damos por nós a falar inglês mesmo sóbrios.

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