A Mentira Perfeita
Talvez tivesse sido diferente se Alfena da Serra fosse um lugar maior. Talvez as coisas se tivessem passado de outro modo se as pessoas ali não fossem tão crédulas. Talvez tudo não tivesse acabado assim se ele fosse menos convincente. Mas Alfena da Serra era pequena, as pessoas crédulas e Augusto Sousa entusiástico. Desde pequeno que mentia. Mentia aos pais, aos amigos, aos pais dos amigos e aos amigos dos pais. Mentia porque era irresponsável, mentia porque era travesso e mentia porque sim. Mentia por necessidade, mentia por hábito e mentia por medo. Mentia com gosto e mentia com arte. Mentia com a arte de quem mente por gosto, e com o gosto de quem domina a arte. E tamanha era a arte de Augusto que por o saberem mentiroso não duvidavam que mentia mesmo quando falava verdade. E a verdade em que não acreditavam era a mentira que o artista não chegava a dizer. Era um verdadeiro mentiroso. Augusto cresceu mentiroso. Mentia na confissão, fazia batota ao jogo e copiava nos exames.