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A mostrar mensagens de fevereiro, 2016

A Mentira Perfeita

   Talvez tivesse sido diferente se Alfena da Serra fosse um lugar maior. Talvez as coisas se tivessem passado de outro modo se as pessoas ali não fossem tão crédulas. Talvez tudo não tivesse acabado assim se ele fosse menos convincente. Mas Alfena da Serra era pequena, as pessoas crédulas e Augusto Sousa entusiástico.    Desde pequeno que mentia. Mentia aos pais, aos amigos, aos pais dos amigos e aos amigos dos pais. Mentia porque era irresponsável, mentia porque era travesso e mentia porque sim. Mentia por necessidade, mentia por hábito e mentia por medo. Mentia com gosto e mentia com arte. Mentia com a arte de quem mente por gosto, e com o gosto de quem domina a arte. E tamanha era a arte de Augusto que por o saberem mentiroso não duvidavam que mentia mesmo quando falava verdade. E a verdade em que não acreditavam era a mentira que o artista não chegava a dizer. Era um verdadeiro mentiroso.    Augusto cresceu mentiroso. Mentia na confissão, fazia batota ao jogo e copiava nos exames.

O Peixinho Que Não Sabia Nadar

   Era uma vez um peixinho. Este peixinho não era dourado nem vivia num aquário, comodamente instalado entre termóstatos, filtros e navios pirata afundados que soltavam bolhinhas. Era um peixinho verdadeiro e vivia no mar. Nesse mesmo, no grande mar oceano, mesmo lá no fundo. E vivia mesmo lá no fundo do grande mar oceano porque não sabia nadar. Não se tratava de um defeito congénito, como o do Nemo, o problema é que ele simplesmente não sabia nadar. Será estranho um peixe que não sabe nadar? É. Haverá outros peixes que não sabem nadar? Não sei, não os conheço todos, mas este não sabia nadar, e o motivo pelo qual tinha este impedimento era simples: nunca tinha aprendido. E porque não tinha ele aprendido? Porque os pais nunca o tinham ensinado. Dirão: "filho de peixe sabe nadar", mas isso não passa de um estereótipo, uma frase feita, ainda por cima nunca aplicada a peixes. Quem já ouviu essa frase aplicada a peixes? Ninguém. Ouve-se muito a respeito de cantores, actores e outr

Ipsis Verbis

No dia 27 de Janeiro de 2010 fui chamado ao Oceanário. Um tubarão andava estonteado. Era um tubarão branco, que já era velho e tinha sido posto no aquário há cerca de três dias. Quando olhei para o lado vi um rapazinho. Parecia ter uns sete anos e tinha ar de espertalhão. Ele olhou para mim e disse que tinha a certeza que esse tubarão não variava a alimentação. Foi nesse momento que encontrei a resposta. Agradeci ao rapaz e subi umas escadas com um frango na mão. Atirei-o ao aquário e o tubarão saltou e apanhou o frango. Comeu-o e fez uma sesta. meia hora depois o tubarão acordou. Já estava tudo bem. O tubarão estava a nadar normalmente. O problema que tinha causado as tonturas do tubarão era a alimentação dele. No oceano ele comia tartarugas e no Oceanário só lhe serviam pechunga.