Abraço Solitário
Era uma vez um abraço à espera de ser usado. Estava esquecido na casa de uma pessoa amarga, que o tinha para lá guardado no fundo da despensa, embora se saiba que o lugar dos abraços por usar é no roupeiro. Um dia o abraço cansou-se de esperar por ser usado e saiu à rua à procura de quem o quisesse. Saíu ostensivamente, batendo com a porta da despensa e exibindo o seu flamejante cheiro a bafio, mas a pessoa amarga não o viu, não o ouviu, e não o cheirou. Ou então fingiu que tinha os sentidos obstruídos, pelo que o abraço acabou mesmo por sair para a rua. A rua estava deserta. Era uma rua residencial, e àquela hora as pessoas estavam no emprego, não circulavam por ali. Cruzou-se com o carteiro e dirigiu-se a ele de braços abertos, mas o carteiro trazia as mãos cheias de contas e extractos bancários e publicidade enganosa e nem reparou no abraço. Os carteiros já não trazem cartas, essas vêm por correio electrónico ou sms, e a última coisa de que um carteiro precisa é de um abraço a