O Patrãozinho
Estava sentado de encontro à parede, aproveitando o calorzinho do sol de fim de tarde, ouvindo os pássaros e observando uma aranha que teimava em reconstruir a teia que ele diariamente destruía na ombreira da porta. Nunca se arrependera de ter trocado a sua casa de Setúbal para viver neste recanto alentejano. Sete quilómetros até à vila mais próxima não era nada, e com tv por cabo e internet era como se não se tivesse nunca afastado dos amigos citadinos. Alguns deles via-os até mais amiúde, porque gostavam de o vir visitar ao campo ao fim de semana, quando enquanto vizinhos na grande cidade quase não se encontravam. Alguns invejavam-no em segredo, outros sem o ocultar, mas nem todos tinham a sorte de poder trabalhar a partir de casa, e menos ainda tinham a coragem de largar os velhos hábitos afastar-se das correrias que sempre tinham conhecido. Absorto nestes pensamentos quase não reparava na figura que subia o caminho. Tentou reconhecê-la, mas contra a luz do pôr-do-sol não era fác