Não sei porquê, hoje acordei a pensar no Caçunha. Há muito tempo que não pensava no Caçunha, e duvido até que mais alguém se lembre dele. O Caçunha era o típico pobre diabo. Sem família, e suponho que sem amigos, vivia na taberna e tinha por companhia uma garrafa de tinto, daquelas sem rótulo, com as 5 estrelas no gargalo, e tampa de plástico por rolha, que nunca estava bem vazia, mas andava sempre longe de estar cheia. O meu avô deu-lhe trabalhos e foi assim que se tornou no faz-tudo lá de casa. Com o tempo mudou-se para a casa da palha, que ganhou um chão de cimento, uma cama de ferro e uma bacia. Não me recordo se tinha casa de banho, mas era apesar de tudo melhor que a ruína onde pernoitava an tes. Houve ocasiões em que não chegava à ruína, e a famosa expressão "ficar caído na valeta" teve várias vezes um sentido literal, a pontos de ter que ser hospitalizado, com feridas mais ou menos graves. Não sei se Caçunha era alcunha. Era assim que o meu pai se lhe referia