Dores
Não sei porquê, mas acordei magoado. E não tem nada a ver com a mesinha de cabeceira. Estou magoado com o Mundo. Vejam bem que descobri recentemente que há um lobby contra as peúgas brancas. E pior! Há sub-lobbies contra as peúgas brancas com raquetas de ténis! Ora eu, que sou de paz e não me meto em organizações subversivas, revolto-me interiormente quando reparo nessas coisas. Como anti-fascista de longa data, sou contra a discriminação de cor, sexo e religião (e peúgas, claro). Não posso, em consciência, admitir que se marginalize desta maneira subtil toda uma raça, por porca que seja. Ou quem pensam vocês que detém o monopólio da venda da peúga branca? Il zingarelli, claro. Vendidas ali, aos maços de 3, 6 ou 10, ao lado da musicassette do Tony Carreira. Ora, discriminar a peúga branca, epitetá-la de "pé de gesso" (expressão assaz desagradável e de franco mau gosto), está a um passo do genocídio no Rwanda, das matanças dos Khmers Vermelhos, ou do massacre das focas bébé da Gronelândia. Hoje a peúga pé de gesso, amanhã o tacho de alumínio, no dia seguinte o Mundo. E quando vamos a ver, temos o país pejado de Hermaninhos pedantes, de nariz emproado e tiques de larilas, a esnobar (palavra que descobri recentemente num jornal desportivo) do vizinho do lado porque mexe o café com a mão esquerda, e a clamar que devia haver, ao lado da zona de não fumadores, das bombas de gasolina sem chumbo, das mesas de café sem cafeína e dos skaters com capacete de protecção e caneleiras, um canapé para o pessoal que compra as meias nos ciganos.
E depois de tudo isto, vão olhar para baixo e descobrir que andam de chinela de enfiar o dedo, os malcheirosos... Com os pés todos pretos do fumo dos carros e peganhentos da cerveja entornada. Que será então do seu amor próprio? Da sua dignidade? Poderão ainda reclamar-se de condição humana? Ou serão tão só foragidos da Longa Marcha, perdidos, sem eira nem beira litoral, procurando encontrar-se num mundo para sempre mudado?
"Beati pauperes spiritu"
E depois de tudo isto, vão olhar para baixo e descobrir que andam de chinela de enfiar o dedo, os malcheirosos... Com os pés todos pretos do fumo dos carros e peganhentos da cerveja entornada. Que será então do seu amor próprio? Da sua dignidade? Poderão ainda reclamar-se de condição humana? Ou serão tão só foragidos da Longa Marcha, perdidos, sem eira nem beira litoral, procurando encontrar-se num mundo para sempre mudado?
"Beati pauperes spiritu"
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