O Arco do Cego

Dos meus tempos de alfacinha, sonhei esta curta história cuja sinopse convosco partilho, filantropo que sou.



O Arco do Cego


Gerónimo Matatias era atleta olímpico.
Na realidade, era um atleta para-olímpico, um invisual campeão de tiro com arco. Um dia roubaram o arco ao cego. Eis como tudo se passou:
Numa tórrida manhã de Fevereiro, enquanto treinava no Estádio Nacional, deparou-se-lhe de chofre a crueldade da natureza humana. Dos sete pecados mortais, nenhum mais fatal que a inveja. E foi precisamente a inveja que corroeu o espírito do seu colega para-olímpico, Jacinto Flores, também ele um campeão, mas dos 300m barreiras, que transpunha com invulgar facilidade, apesar da cadeira de rodas a que estava obrigado pela distrofia muscular galopante.
Quis o destino que em amena cavaqueira olímpica, entre pires de caracóis e cervejas dietéticas, se comparassem troféus. Ora Gerónimo Matatias insistia com particular ênfase, que não via como podia ele, Jacinto, conseguir todos aqueles troféus que acumulava na arrecadação do seu prédio, por gentileza do porteiro. E por mais que lhe explicassem ele teimava:
- Não vejo como tal é possível. Desculpa, mas não vejo mesmo.
Tamanha casmurrice foi fazendo subir a bilis do companheiro, de tal forma que num repente impensado lhe tirou o arco e a aljava, e fugiu escada acima, enquanto o amigo, que nada vira, insistia infrutíferamente em tirar um caracol da casca. E lá continua, caracol numa mão, pico na outra, resmungando, como há 27 aos atrás:
- Desculpa, é que não sou mesmo capaz de ver...
Quanto ao arco do cego, também lá está, na arrecadação do porteiro.






O próximo volume desta colecção intitula-se "A Cova da Iria".
Eis as primeiras linhas deste fascinante conto:



Iria era uma prostituta Moldava que trabalhava em Alcântara....





PS: podem contactar-me através do blog para negociar os direitos cinematográficos.

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