Gil Chepião. detective da Expo 98 e o caso da cedilha desaparecida





Introdução

Era uma manhã de segunda feira, igual a tantos outros sábados. Lá fora chovia copiosamente enquanto o trânsito engarrafado causava severas contrariedades a todos aqueles que procuravam chegar a tempo ao emprego. Da janela do seu escritório no Algarve, Gil Chepião, detective afoito da Expo 98 observava mais um acidente causado por ainda outro motorista entontecido por tantas rotundas. Recordou com um sorriso o tempo passado na capital, em que nada disto acontecia, antes de ser destacado para este posto importante, na pequena cidade de Légos, onde espiões internacionais se cruzam a cada passo e sinistras manobras de bastidores determinam a cada momento o curso da História do mundo ocidental. Ou não fosse a Legolândia um dos mais importantes países convidados da Expo 98. ..

Uma pancada discreta na porta interrompeu o curso dos seus pensamentos. Mandou entrar enquanto tomava o seu lugar à secretária. Ela entrou. Era esguia como uma enguia, com uma cintura de vespa e olhos felinos que o miraram dos pés ao pescoco com a intensidade de uma águia. O cabelo ruivo e sedoso como o pêlo de um setter irlandês emoldurava um rosto onde sobressaía um nariz de papagaio. Gil pensou imediatamente que ela procurava o veterinário do andar superior, mas ela sentou-se com um movimento serpentilíneo, e sibilou-lhe o motivo da sua visita: desaparecera uma cedilha, e isso punha seriamente em risco a Caca ao Tesouro agendada para dali a uma semana. Poderia ele encontrá-la a tempo?

Gil Chepião, detective afoito da Expo 98, meditou no caso durante breves segundos. Uma cedilha nas mãos erradas durante a Expo 98 era uma ameaca à seguranca Nacional. Poderia até, quem sabe, ir parar às mãos do Padre Frederico, ou, pior ainda, da sua mãe.

Acendeu um cigarro de chocolate, e enquanto mastigava uma pastilha elástica pediu-lhe pormenores.

Ela deu-lhos, num envelope branco marcado "Confidencial", e recomendou-lhe cuidado. Um tenebroso destino aguardava aquele que não seguisse escrupulosamente as instrucões, e podia nunca mais conseguir voltar ao ponto de partida nem rever a família, os amigos e as Marés Vivas. Ele assentiu com a cabeca e esmagou a pastilha elástica no cinzeiro enquanto se levantava para a acompanhar à porta. Com um leve sinal da mão, ela recusou e saiu pela janela sem discutir a questão dos honorários.

Gil Chepião, detective afoito da Expo 98, tornou a sentar-se e engoliu em seco o cigarro, enquanto tentava pôr em ordem os pensamentos: porque quereria alguém apoderar-se da cedilha? Qual a organizacão que poderia estar por trás desta conspiracão? Quem era a mulher misteriosa que acabara de o deixar? Onde estacionam os carros as pessoas que vivem no centro de Légos? Mistérios insolúveis.

Para qualquer outro, talvez, mas não para Gil Chepião, detective afoito da Expo 98. Abriu o frigorífico, tirou uma cerveja sem cafeína e abriu o envelope com o tira cápsulas. Lá dentro encontrou algo que não esperava: um microfilme A4 em que, sob o título "Informacões secretas da Expo 98", certamente um nome de código, havia uma longa lista de informacões secretas da Expo 98. Infelizmente não estava completamente completo, pelo que gastou ainda algum tempo a preencher as lacunas, antes de entregar esta primeira prova ao seu superior hierárquico.

Tarefa prontamente completada, Gil Chepião, detective afoito da Expo 98 tirou mais uma fumaca da cerveja e aprestou-se a fazer os preparativos indispensáveis.

Precisaria, por certo, de um mapa da região, talvez até de um atlas. O melhor seria levar ambos. Um dicionário multilíngue podia ser uma ferramenta preciosa, neste meio em que se cruzam espiões internacionais. Um orientante, sem dúvida, e um medinte. Livros de referência e livros aos quadradinhos. Um livro de cheques, um livro de história para os tempos livres, um livro de moradas, o livro dos livros (indispensável) e o livrete do carro. Cores de pau e um instrumento para safar, bem como um escrevente de carvão. Uma arma branca e outra colorida, para estar prevenido contra todos os inimigos. Um aumentante, acessório sem o qual nenhum detective poderia resolver caso algum, e, para as contingências imprevisíveis, uma bóia de praia insuflada e uma espécie de manta com que as mulheres agasalham os ombros e o tronco, para as longas vigílias nocturnas que se previam. Ah! E não esquecer a escova de dentes !



Mas acima de tudo, Gil Chepião, detective afoito da Expo 98 contava com a sua perspicácia e sagacidade para levar a cabo o sucesso da missão.

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