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A mostrar mensagens de fevereiro, 2015

O snack-bar da Alice

Foi há três Verões atrás, há cerca de três anos, no Verão, que o Estimado Ouvinte e o Caro Telespectador se encontraram para comer uma caracolada como não havia outra. Guisadinhos, com os corninhos de fora, a puxar ao sal e à imperial fresquinha, as lesmas só tinham descanso quando os amigos pousavam os picos para ensopar o panito no molho, ou destemperar com um tremoço. A conversa também era amena: discutia-se a programação da semana, o que dava sempre azo a animadas controvérsias, já que nem o Estimado Ouvinte apreciava os programas de televisão, nem o Caro Telespectador tinha paciência para as rubricas da telefonia. E foi por isso, mas sobretudo por a tachada de gastrópodes ter chegado ao fim, que decidiram que a tarde ainda era jovem, que o dia estava agradável, e que seria um gesto simpático ir visitar um amigo comum, pelo que se puseram a caminho da casa do Prezado Leitor, que vivia numa vivenda ali por trás do campo da bola, mas o Prezado Leitor não vivia na vivenda, vivia na ga

Todos os Nomes

As crianças são o melhor do mundo, e a minha não é excepção. Não há dia que oiça uma música ou veja um filme na telvisão que não exclame: Ah, ele disse um palavrão! E depois pergunta-me se era na verdade um palavrão e o que significa. E é aí que me confronto com essa dificuldade clássica, que é definir o que é ou não é um palavrão. Um exemplo clássico e comum é "bitch". - Ó pai o que quer dizer bitch? - Bitch quer dizer "cadela". - Mas ali nas legendas diz que é "cabra". E pronto, está o caldo entornado. Agora tenho que lhe explicar a diferença entre uma cabra e uma cadela? Ainda por cima quando eu sei (e ele também) que as músicas e os filmes não se referem a animais domésticos? Lá tenho que encerrar  o assunto com a explicação de que se trata de um insulto. Parece que foi ontem que perguntei ao meu pai o que era uma prostituta, palavra comprida que também constava de umas legendas de um filme a preto e branco (acho que era o Baretta). É claro que ele foi

Chorrilho

Não há presença na ausência Alegria na distância ou repouso na saudade Talvez dor na recordação Incómodo na incerteza ou conforto no esquecimento Mas quem quer estar comodamente oblívio Distantemente repousado em segurança Enquanto a efemeridade nos consome tranquilamente? Dust to dust...?

Literatura Infantil

Decidi dedicar-me à literatura infantil. Pode parecer um capricho, mas é uma ideia que tem vindo a germinar no meu espírito desde que tomei contacto com este surpreendente género literário, tão subvalorizado. Foi este o género que deu ao mundo pérolas como “Tio Lobo”, “Zonzo, o Cabritinho”, “Olá, eu sou um livro”, “Leonardo o Monstro Terrível”, “O Senhor Cavalo-Marinho”, “Rosa Rebuçado” ou “O Gui e a Consola Nova”.  Mas foi a última obra adquirida cá para casa que me decidiu: “O Capitão Barriga Castanha”. A princípio senti-me intimidado com a perspectiva de enfrentar um tão temível género, mas afinal, se o Saramago e o Miguel Sousa Tavares são capazes, não deve ser necessário grande esperteza. Cá vai então o primeiro arremedo de esboço. A Galinha CáCá e a Pergunta Que Não Tinha Resposta CáCá era uma franga bem comportada: só comia minhocas asseadas, não debicava o milho das outras aves e não esgaravatava para cima das patas de ninguém. Por esse motivo, e apesar de ainda novinha, todos