Realmente...

Era uma vez um rei.
Não um desses reis de faz-de-conta, das histórias de princesas e dragões. Era um rei real, e realmente régio, coroado e entronado, de espada na mão e ceptro ao colo, como convém a monarca de estirpe afamada e pedigree registado. Filho de rei, sobrinho de conde e primo de duquesa. Um rei à séria, enfim, que tinha tudo menos um reino. 
Conta a história e reza a lenda (que às vezes coincidem) que este rei fora outrora influente e estimado, mas que caíra em desgraça devido a intrigas e más línguas. Poder-se-ia pensar que sendo um rei tão régio não estaria sujeito a sufrágios da vox populi e reinaria apenas por direito divino, sem ter que prestar contas mundanas, mas eu já tinha dito que era um rei real, e na realidade a realeza também sofre realmente as agruras do povo, tanto mais que é o SEU povo, que ela tanto preza e estima como se fosse realmente seu.
Foi então o nosso rei destronado, o seu reino parcelado e arrendado barato a investidores estrangeiros e o seu trono vendido em hasta pública para ser arrematado por um pastor evangélico brasileiro que passou a usá-lo como adereço das suas arengas, terminando-as falsamente prostrado sobre a cadeira que outrora apoiara as ilustres nalgas. Triste destino para tão nobre assento.
Quanto ao rei, mudou-se para um baralho de Vermelho A, onde vive eternamente rodeado de Damas e Duques e Valetes, entretido por jokers e perpetuamente em guerra com três outros reis tão desgraçados como ele.
E nenhum pretende mudar de vida. Sentem-se finalmente seguros e valorizados, uns verdadeiros ases.

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