Tradições minoritárias

Não sou particularmente versado em multiculturalidade. Na minha humilde opinião é mais um palavrão cunhado à pressa para engodar papalvos que se babam por qualquer tema que lhes pareça politicamente correcto. Houve mesmo quem me epitetasse de xenófobo ou até racista. Não me aflige. Epitetem-me à vontade. Sou coriáceo e os epítetos ressaltam na couraça da minha indiferença, mas cabe-me reparar em algumas idiossincrasias de etnias minoritárias, particularmente os roma. Era para dizer ciganos, mas achei melhor evitar os epítetos, que podem minar a seriedade e credibilidade da observação que pretendo partilhar.
Fala-se com frequência na falta de funerais chineses. Diz-se por aí à boca pequena que foi coisa que nunca se viu por cá, e questiona-se à boca mais pequena ainda para onde irão a carcassas dos defuntos, se de facto os chineses chegam a defuntar-se. Também não me aflige, mas interrogo-me por que motivo ninguém fala dos ciganos. Não sei se algum cigano morreu já de causas naturais, julgo que é tradição deles morrer de facada ou tiro de fusca, mas algo menos dramático me perturba:
Já alguém ouviu falar de um cigano divorciado? 
Tenho para mim que cigano só tem três estados civis possíveis: comprometido, casado ou viúvo. Ouvi falar em casamentos ciganos: duram 3 dias (ou semanas) comparecem familiares de todos os distritos do país e primos afastados da Andaluzia, comem e bebem à fartazana, gastam diversos Rendimentos Sociais de Inserção na boda e vendem alguns carros em segunda mão, mas nunca ouvi falar num divórcio cigano. Possivelmente está aqui o porquê: se para casar a festa é rija, festejar um divórcio deve requerer uma festa diversas vezes mais rija, mais bem comida e mais bem bebida. Está porventura fora das posses do cigano com RSI mais avultado. Ou então o motivo é mais prosaico: se calhar é termo que não existe na língua romani. Ou casado, ou viúvo, porque a santa madre igreja não vê com bons olhos o desfazer dos sagrados laços matrimoniais, e não há povo mais religioso que o cigano. Como chega o cigano à viuvez é algo que me escapa, embora pudesse tecer algumas considerações hipotéticas sobre o assunto, se não as achasse desnecessárias. Digamos apenas que não conheço ciganos divorciados...

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