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A Espada Mágica
Há muitos, muitos anos vivia num reino distante um corajoso cavaleiro chamado Girimeu. O cavaleiro levava uma vida pacata, caçava veados, lebres, javalis, raposas, salvava donzelas em perigo e matava dragões.
Certo dia, Girimeu foi procurado pelo feiticeiro negro para resolver um problema: descobrir uma espada mágica que estava num país luminoso e que tanta falta fazia aos habitantes do reino. É que este reino era aterrorizado por um malvado e perigoso dragão, que comia ovelhas e roubava criancinhas, enquanto que o seu bafo abrasador consumia as colheitas e torrava árvores de fruto e gado. E de tal sorte era esta peste, que até o feiticeiro, negro como era, por dentro e por fora, concordou em ajudar o cavaleiro e o povo com o seu conhecimento. E era de seu conhecimento que este dragão só poderia ser morto com uma espada mágica.
- Partirei logo ao amanhecer. - disse com entusiasmo Girimeu.
- Ide, mas tende cuidado, pois os perigos são muitos. – alertou o feiticeiro.
Mal amanheceu, Girimeu dirigiu-se ao estábulo, montou o seu cavalo Galapásio e partiu à aventura. Já cavalgava há um dia quando entrou numa densa floresta, com plátanos, choupos, carvalhos e com tantas silvas que se tornava muito difícil atravessá-la. Aos poucos, lá foi avançando com a ajuda do seu forte cavalo e da sua espada, que embora não fosse mágica, facilmente cortava troncos, ramos e galhos.
De repente, a floresta abriu-se numa clareira onde nada crescia. Nem plátanos, nem choupos, nem carvalhos, nem silvas, nem sequer uma ervinha ali crescia. Era uma desolação completa. Não era natural, e enquanto empunhava a sua espada com mais firmeza analisou o solo com cuidado.
- Bem me parecia. – murmurou para si próprio o bravo cavaleiro – Este chão foi queimado por um lume muito quente.
Mal tinha acabado de pronunciar estas palavras, um ruído atrás de si fê-lo voltar-se tão depressa que tropeçou nas próprias pernas e se estatelou ao comprido, largando a espada e ficando com a cara a poucos centímetros da silva mais próxima, por onde tinha acabado de atravessar. Foi aí que sentiu uma dentada no nariz.
- Ai! – gritou Girimeu com tanta força que as árvores abanaram.
E levantou-se de um pulo, sacudindo a cabeça, a cujo nariz estava agarrado com os dentes um pequeno, mas decidido homenzinho verde.
- Larga-me, sua espécie de ratazana raivosa! – berrava o cavaleiro puxando por uma perna da criatura com uma mão enquanto com a outra lhe dava palmadas na cabeça.
E pulava, torcia-se, rebolava no chão e dava cabeçadas nas árvores, tentando libertar-se da incómoda criatura. Mas em vão. O homenzinho verde estava bem agarrado, os dentes profundamente cravados na penca do cavaleiro, que por sinal não era pequena. Lembrou-se então das suas conversas com o feiticeiro negro e ocorreram-lhe finalmente as palavras mágicas:
- Larga-me, se faz favor!
Imediatamente o homenzinho abriu a boca e libertou Girimeu da sua incómoda e embaraçosa situação, caindo de rabo no chão com violência e levantando uma pequena nuvem de poeira. Girimeu, valente cavaleiro, experiente de muitas batalhas, não perdeu tempo e assim que se viu livre agarrou o adversário pelo pescoço. Dessa posição vantajosa pôde observá-lo com o cuidado e pormenor que a situação exigia. Era pequeno, maior que uma ratazana, mas menor do que um gato, com dois olhos grandes e escuros, duas orelhas pontiagudas e cabelo ruivo cuidadosamente penteado com risco ao meio. O nariz era arrebitado e tinha um bigode negro primorosamente enrolado nas pontas. Mas o que mais chamava a atenção era a cor da sua pele: era verde, cor de petróleo, e escamosa, como a das lagartixas.
- Quem és tu e porque me mordeste?
- Sou Flix, o Guardião da Espada, e mordo todos os que se atrevem a procurá-la.
- E como sabes que procuro a espada mágica?
- Eu tudo sei, Girimeu de Montesquieu, e aqui e agora te aviso que a tua demanda só te trará dificuldades e problemas, se não contares com a minha ajuda. E que a espada não basta: é necessário saber usá-la, e não será o teu feiticeiro de coração negro quem te ensinará a usá-la para praticar o Bem.
Estas palavras despertaram em Girimeu a memória de outras malfeitorias e enganos que o feiticeiro havia praticado em tempos antigos, e compreendeu que estava a ser usado por um homem malévolo que só pretendia aumentar o seu próprio poder, e não ajudar os outros.
- E ajudar-me-ás, Flix?
- Ajudar-te-ei, se provares querer utilizar a Espada apenas para praticar o Bem, e renunciares à tua amizade com o Feiticeiro Negro.
- E que prova pretendes? Diz-me e tê-la-ás.
- Não é difícil. Aqui tens a Espada. Se conseguires sair desta clareira com ela, então as tuas intenções são honradas e poderás usá-la, com a minha bênção. Mas se as tuas intenções não forem boas e o teu coração for falso, não poderás sair da floresta. As árvores que viste até chegar aqui foram outrora pessoas que não eram movidas por bons intentos. A Espada não perdoa, e torna-os em árvores se tiverem intenção de a usar para o Mal. Os choupos eram pessoas com intenções de vingança; os plátanos pretendiam riquezas desonestas; os carvalhos queriam batalhar por glória vã, e as silvas são tantos quantos os pensamentos violentos que tiveram até chegar aqui.
- Não temo – respondeu Girimeu – porque as minhas intenções são nobres e os meus pensamentos são puros.
Flix chamou então em voz alta e dos céus desceu uma coruja gigantesca, que trazia nas garras uma espada enferrujada, pouco maior que uma adaga. A lâmina estava embotada e o punho gasto, de muito uso. Pousou-a suavemente nos braços estendidos de Flix e olhou Girimeu nos olhos.
- Estarei de olho em ti, cavaleiro. – disse a coruja, e voou rapidamente para longe.
- Esta é que é a Espada Mágica? Não parece grande coisa…
-Não rias dela, cavaleiro. Todas as espadas brilhantes do teu reino, todas as lanças compridas e afiadas e todas as flechas velozes foram inúteis contra o dragão. A resposta está na sua magia, não no seu tamanho.
- Mas como vou conseguir aproximar-me o suficiente para poder usá-la?
- Não será necessário. O dragão conhece bem esta espada e odeia-a. Quando a vir, procurá-la-á, e bastará que a ergas bem alto. Eu estarei perto e ajudar-te-ei. Agora vai. Se conseguires atravessar a floresta, terás a tua oportunidade.
Girimeu foi. Levou as duas espadas e desta vez não foi necessário cortar silvas ramos ou galhos. Estes afastavam-se à sua passagem, discretamente, como se houvesse ali um caminho, mas quando olhava para trás Girimeu não via caminho algum. A floresta estava tão densa como quando a atravessara em sentido inverso.
Subitamente acabaram os plátanos, os choupos e os carvalhos, e silvas, nem vê-las. Tinha saído da floresta e reparou imediatamente numa figura voadora que se aproximava rapidamente. Calculou que fosse a coruja que prometera vigiá-lo, mas quando sentiu os dedos dos pés a escaldar, compreendeu que o dragão o seguira até ali e que não perdia tempo em atacá-lo.
Mal teve tempo para levantar a espada, como Flix lhe tinha recomendado, porque o dragão estava sobre ele. Com um guincho de arrepiar os cabelos dos braços, desceu com toda a velocidade e veio cravar-se na espada com tal força que bateu no chão esborrachando Girimeu, e ressaltou na direção da floresta, onde foi engolido pelas árvores para nunca mais ser visto.
- Bem disse que te ajudaria – ouviu-se Flix dizer, enquanto saía de trás de uma pedra.
- Ajudar-me? Fiz tudo sozinho! Fiquei aqui todo esborrachado enquanto te escondias. Olha para a minha armadura, toda amachucada! Como vou agora apresentar-me ao Rei?
- O dragão está morto e não poderias tê-lo feito sem a minha ajuda. Agora devolve-me a Espada, que a guardarei até que seja de novo necessária.
Girimeu estendeu a espada ao duende, e sem mais palavra virou costas e cavalgou na direção da capital do reino, onde honrarias o esperavam.
Quanto a Flix, desapareceu entre as árvores pronto a morder o nariz do próximo valentão que ali passasse à procura de uma espada mágica.
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