O Pescado Mora ao Lado

  Silvina Silva não tinha culpa de ser uma bomba ruiva de formas voluptuosas. Um pouco como a Jessica Rabbit. Nem de atrair as atenções dos homens e a inveja das mulheres. Um pouco como a Marilyn Monroe. Mas Silvina tinha culpa de passar os dias na varanda do seu rés-do-chão a apanhar banhos de sol no Verão e a fazer step no Inverno, à vista de homens atentos e mulheres invejosas. No Verão com um bikini reduzido, no Inverno com um fato de licra roxo abundantemente transpirado. E foi assim que Silvina se tornou rapidamente uma das atracções da terra, que, como muitas outras terras pequenas, não tinha muito de atraente. A não ser Silvina Silva. Até já diziam que era um monumento. E foi assim que a rua onde morava SS passou a ser mais frequentada, como mais frequentada passou a ser a loja contígua ao subitamente conhecido apartamento térreo. 
  Era uma peixaria.
  Naquela insignificante povoação do interior o consumo de peixe subiu subitamente, os níveis de ómega 3 dispararam e os casos de osteoporose praticamente desapareceram. Eram agora os homens quem insistia num peixinho grelhado, em vez do salutar bife da vazia em sangue. E tamanha foi a procura de peixe que a peixaria passou a ter filas que frequentemente se prolongavam para fora do estabelecimento, como numa repartição pública. E quando se prolongavam para fora do estabelecimento, flectiam invariavelmente na direcção da varanda de Silvina, que continuava indiferente a sua maratona ora de banhos de sol, ora de ginástica aeróbica. 
  E a sua indiferença estendia-se aos inevitáveis piropos ictiológicos dos outrora reservados chefes de família:
  - Ah, faneca!
  - Não é uma cavala, é uma cavalona.
  - Só venho procurar um linguado.
  E o inevitável:
  - Quero cheirar o teu bacalhau.
  E aquilo que ninguém sabia, ou sequer suspeitava, é que Silvina Silva, involuntária responsável pela melhoria da saúde pública, não passava de um golpe publicitário.

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