A Casa dos Bicos
Em tempos que já lá vão existia em Lisboa uma casa singular.
Por essa altura chegavam frequentemente à capital autocarros vindos da província. Traziam pessoas em busca de melhores condições de vida, familiares que vinham de visita, cidadãos que tinham negócios particulares ou afazeres com a administração pública que só na capital podiam ser resolvidos. Chegavam também excursões de curiosos que vinham conhecer os monumentos tradicionais, ou foliões que vinham divertir-se na Feira Popular. E muitos desses autocarros despejavam ali, no Campo das Cebolas, os seus carregos de viajantes, finalmente libertos das agruras que as esburacadas Estradas Nacionais infligiam aos seus costados. Eram longas e duras, as viagens desde as Beiras, Trás-os-Montes ou os Algarves.
Ora era precisamente no Campo das Cebolas que os mais versados nestas coisas das viagens de autocarro sabiam encontrar esta casa singular, e com frequência para lá se dirigiam ao chegar de viagem, ou antes de partir, consoante o sentido da sua jornada.
Do que se tratava naquela casa, só quase quem a frequentava sabia. Talvez lá se vendessem bilhetes de autocarro, com tantos viajantes a entrar e sair; dizia-se que se dedicava ao comércio de bacalhau; especulava-se que fosse uma casa de pasto onde se repastava lautamente, pois era frequente ver de lá sair os homens com ar satisfeito e as senhoras ainda a limpar os cantos da boca. O que se sabia ao certo era que lhe chamavam a Casa dos Bicos.
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