Rómulo e Abel

    Numa casa no limite da vila moravam dois irmãos. Eram muito parecidos, quase gémeos, e os pais gostavam muito deles. A casa era simpática, nem ostentosa, nem humilde, térrea, com um quintal apenas suficiente para criar meia dúzia de tomates e outras tantas alfaces, e suportar um cão pequeno. Tinha uma água furtada, janelas de três lados e uma porta pintada de verde com um batente de latão.
    Todos os dias o irmão mais velho, embora pouco, saía daquela porta brilhante e seguia o caminho que o levava direitinho à escola, a casa dos amigos, à missa ou ao parque. Seguia pelo passeio, atravessava na passadeira e cumprimentava os vizinhos e os amigos dos pais.
    O irmão mais novo saía pela janela e enfiava pelos campos. Sujava as botas de lama no Inverno e os sapatos de pó no Verão, atirava pedras aos pássaros e brincava com os ciganos.
    Na escola, eram ambos bons alunos. O mais velho sabia a tabuada de cor, conhecia as preposições e solfejava que era um primor; o mais novo fazia multiplicações sucessivas, não dava erros de ortografia e tocava de ouvido.
    Cresceram assim, quase gémeos e bons alunos. O mais velho casou, mudou-se para a cidade, teve dois filhos e um bom emprego como professor universitário e foi feliz o resto da vida.
    O mais novo viu o mundo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Fado da Desgraçadinha

Libertad O Muerte

O Insurrecto