O Homem Que Tinha Tudo e o Homem Que Não Tinha Nada

Era um homem que tinha tudo.
Nascido em berço de ouro foi criado no seio de uma família carinhosa, onde nada lhe faltou. Pais extremosos, tios e avós que o apaparicaram desde pequeno, irmãos com quem sempre se deu bem e serviçais dedicados que cuidaram dele e da fratria como se dos seus se tratassem.
Teve sempre uma saúde de ferro, um sorriso radioso e um coração de oiro, de tal forma que amigos verdadeiros nunca lhe faltaram.
Cresceu assim, sortudo. Nasceu com o cuzinho virado para a Lua, tinha uma estrelinha, era o homem que tinha tudo.
Tinha saúde, família e amigos.
Tinha uma esposa dedicada, que o amava ternamente.
Tinha uma amante devotada que o amava apaixonadamente.
Tinha três filhos seus, que o idolatravam.
Tinha ambos os pais vivos e de saúde e quase todos os avós.
Tinha os dentes todos e sem cáries.
Tinha dinheiro e títulos do tesouro.
Tinha uma casa na cidade e uma vivenda na praia.
Ainda tinha o apêndice e as amígdalas.
Tinha tesouros imateriais e materiais.
Tinha um Matisse, um Rolls Royce e um Stradivarius.
Tinha, cuidadosamente guardados, os braços da Vénus de Milo, as notas finais da sinfonia de Schubert e a orelha de Van Gogh, num frasco de formol.
Tinha integridade e verticalidade.
Tinha uma mota de água e um Ferrari.
Tinha influência e amigos importantes.
Tinha um olhar de águia, um apetite de lobo e uma força de touro.
Tinha contas nas Caimão e na Suíça.

Um dia encontrou um homem que não tinha nada, o qual lhe deu um tiro para lhe roubar a carteira.
Agora tem uma viúva e três filhos órfãos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Fado da Desgraçadinha

Libertad O Muerte

O Insurrecto