Uma árvore, um amigo

Numa singela freguesia ribatejana erguia-se um pinheiro.
Ao contrário da freguesia, nada tinha de singelo. Era uma árvore grande, enorme, frondosa, e erguia-se altaneira e sobranceira num cabeço a uma centena de metros de um caminho municipal medianamente frequentado. Manso, o pinheiro, dava-se ares de sobreiro, assim isolado, e a sua larga copa fornecia apreciada sombra, frequentemente aproveitada para piqueniques familiares ou descansos merecidos de atletas de fim-de-semana, que aí retemperavam as forças a meio do seu passeio de bicicleta ou corrida de meio fundo. Essa copa abundante deixara no chão uma espessa camada de caruma, que nalguns lugares menos expostos chegava a criar cogumelos, não obstante a pilhagem a que estava sujeita nos meses de inverno. Muitas eram as lareiras da freguesia que lhe deviam a facilidade com que eram acesas, mas essa era apenas uma das múltiplas utilidades da conífera. As pinhas abundantes não davam apenas pinhões apetitosos, eram também um complemento indispensável da caruma nos meses frios. Até havia quem aproveitasse a sua resina. Mas eram sem dúvida as crianças e as famílias quem mais disfrutavam do pinheiro, e de todos estes proveitos, o que mas se aproveitava era a sua sombra. Não eram apenas duas as gerações que haviam piquenicado debaixo dele.
E embora o pinheiro desse conta de toda esta apreciação e da estima que todos lhe tinham, o seu sonho secreto era viajar e educar as criancinhas. Aguardava ansiosamente o momento de ser cortado e levado para uma fábrica de celulose para vir a tornar-se folha de algum manual escolar.

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