Alma Lusitana

Quando for grande quero ser lusodescendente. Primeiro porque é uma palavra fixe: lusodescendente. Parece o nome de um funicular nas termas do Luso, daqueles que só vão para baixo. Imagino que haja também lusoascendente, que é o que vai para cima, mas esse não parece ser tão famoso.
Depois porque os lusodescendentes são sempre pessoas sérias, capazes de grandes coisas e notáveis nas mais diversas áreas. Há lusodescendentes campeões de ski, senadores americanos, guitarristas em grupos rock de renome mundial, presidentes de câmara em cidades francesas importantes, pintores, futebolistas, vencedores do festival da canção, cientistas... Tudo pilares da sociedade. Das sociedades, porque pertencem a várias sociedades, nunca a portuguesa. E também não importa nada que não saibam uma palavra de português, que nunca tenham cá vindo ou que nem sequer saibam onde fica, o que é uma grande probabilidade, no caso dos lusodescendentes americanos. Importa é ser lusodescendente para Portugal ter uma equipa olímpica de um desporto que nós nem praticamos, ou para ter dupla nacionalidade ou relações comerciais privilegiadas. Curiosamente não parece haver muitos lusodescendentes bandidos. Não há notícia de um lusodescendente esfaquear alguém no Brasil ou assaltar um banco em Joanesburgo, ou traficar droga em Toronto. Mas se for assaltado ou assassinado em Bogotá, aparece nas notícias.
Ora eu não tenho planos para assaltar ninguém, mas também não pretendo ser esfaqueado ou levar um tiro no pâncreas, por isso quero ser lusodescendente, mas dos bons, daqueles capazes de grandes coisas, que inventam vacinas e vão à lua ou aparecem nos créditos dos filmes de Hollywood: "Best Boy Grip - Hank Ferreira da Silva".
E aqui está o meu plano para uma vida melhor: ser lusodescendente, ter um visto gold ser entrevistado pela SIC.

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