Balelas

O mar é um poeta.
Como o outro, é um fingidor, um aldrabão.
É um vira-casacas, um meias-tintas, um duas caras.
Escreve na areia mensagens ininteligíveis que apaga logo a seguir, como se estivesse arrependido. Massacra percebes, lapas e mexilhão sem piedade, como figuras de estilo de um qualquer Luís numa folha de teste.
Tão depressa marulha como gorgulha e ruge, como se não soubesse o que quer. Calmo à superfície, por baixo ele é remoinhos, fundões e correntes. Enquanto entretém alguns, arrasta outros, engole-os e não mais os devolve. Tão logo é serenidade como fúria e destruição. Dizem que se deve respeitá-lo, mas é temor que incute, e quem isso ignora, arrisca penosa lembrança. Está pejado de pescadores incautos, nadadores destemidos, galeões recheados de tesouros e atlantes.
Fonte de vida ou Adamastor?
Apenas poeta.

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