O desconserto dos Guns n´ Roses
Foi na véspera do concerto de Lisboa. Tudo estava a correr como esperado quando inesperadamente se ouviu um berro. Os electricistas pararam, os carpinteiros levantaram a cabeça, os engenheiros de som entreolharam-se e o Axl Rose entornou a garrafa de Cergal que bebericava copiosamente. Fora o seu camarada e por vezes amigo Slash quem berrara, bastante musicalmente, por sinal, mas num tom invulgar. Embora não fosse inédito que houvesse berros em concertos dos Guns n' Roses, isto era ainda a véspera do concerto e Slash não berrava assim, musicalmente, a não ser por um motivo muito forte. A princípio Axl pensou que se tratasse de outro incidente com esparguete, mas vendo o companheiro, por vezes amigo, dobrado com dores, compreendeu rapidamente que esparguete nenhum o poderia fazer contorcer-se daquela forma, e dirigiu-se rápida, mas com o cuidado de não entornar mais da Cergal, para o guitarrista. Pelo caminho foi ultrapassado em corrida por electricistas, carpinteiros e até engenheiros de som, que se entreolhavam enquanto corriam, manobra que executavam com perícia. Inquirido sobre o motivo do seu desconforto, Slash olhou animosamente os socorristas e mostrou-lhes o dedo. Estava partido. Partira-o ao tirar macacos do nariz, o que ninguém foi capaz de compreender e ele próprio incapaz de explicar. De imediato todos os técnicos e assistentes deitaram os dedos ao nariz, indicadores, anelares e até alguns polegares, e escarafuncharam furiosamente mas não só ninguém partiu nenhum como continuaram sem compreender como tal tinha sido possível. Contudo todos concordaram que aquilo era divertido e continuaram alegremente a tirar macacos do nariz com diversos dedos e experimentando novas posições, algumas acrobáticas ou contorcionistas, até que Slash se sentiu incomodado com a falta de atenção e soltou outro berro, embora não tão musical como o anterior. Isto fez desviar a atenção para o dedo do guitarrista, que ele ora erguia ameaçadoramente ora segurava na mão esquerda, tentando aliviar as dores. Os técnicos, pouco solidários, logo começaram a imitá-lo, rindo-se, mostrando os dedos, soltando fingidos ais e uis. Apenas Axl se mantinha fora desta brincadeira, e em vez de gozar com o desconforto do colega, por vezes amigo, ia repetindo com ar consternado:
- This is fucked up, man. This is bullshit. - e outras frases que aprendera nos filmes, mas sem largar a sua garrafa de Cergal.
Foi o próprio Slash quem tirou um telemóvel da cartola e ligou para a Uber para que o levassem ao hospital, mas até isso foi motivo de galhofa entre os presentes circunstantes, pois cada vez que pressionava um dígito no telemóvel, berrava com dores no dígito, e nem os outros se lembraram de marcar o número por ele, nem ele se lembrou de usar outro dedo para o fazer. Enfim, lá conseguiu ligar e a menina da Uber logo lhe disse que dali a 7 minutos podia aguardar pelo seu motorista, o Ilídio, que o levaria ao hospital de Amadora-Sintra. Foi Axl, entre dois goles de Cergal que se ofereceu para ir com ele, pois os técnicos continuavam alegremente a fazer piadas, fingindo que marcavam números em telemóveis imaginários, ou tirando macacos do nariz.
Chegado o Ilídio, sentaram-se o Slash e o Axl no banco traseiro, e o chofer, sentindo que se tratava de uma emergência, evitou o IC 19 para chegar ao hospital, não sem que Axl o tivesse obrigado a parar numa estação de serviço para comprar outra Cergal. No hospital foram afanosamente recebidos por dois auxiliares de bata azul que imediatamente puseram uma pulseira laranja no pulso de Axl, até que este explicou que era uma bandana que tinha na cabeça, não uma ligadura ensanguentada, e que o dedo do sócio, por vezes amigo, não era um gesto malcriado para eles mas que estava apenas com dores excruciantes. Nunca se soube como Axl Rose conseguiu dizer "excruciantes" em português, mas os funcionários do Amadora-Sintra são inexcedíveis e poliglotas, pelo que lá acederam a tratar o guitarrista. Puseram-lhe um penso rápido e mandaram-no à sua vida, não sem antes lhe cravarem dois bilhetes para o espectáculo do dia seguinte.
- This is fucked up, man. This is bullshit. - e outras frases que aprendera nos filmes, mas sem largar a sua garrafa de Cergal.
Foi o próprio Slash quem tirou um telemóvel da cartola e ligou para a Uber para que o levassem ao hospital, mas até isso foi motivo de galhofa entre os presentes circunstantes, pois cada vez que pressionava um dígito no telemóvel, berrava com dores no dígito, e nem os outros se lembraram de marcar o número por ele, nem ele se lembrou de usar outro dedo para o fazer. Enfim, lá conseguiu ligar e a menina da Uber logo lhe disse que dali a 7 minutos podia aguardar pelo seu motorista, o Ilídio, que o levaria ao hospital de Amadora-Sintra. Foi Axl, entre dois goles de Cergal que se ofereceu para ir com ele, pois os técnicos continuavam alegremente a fazer piadas, fingindo que marcavam números em telemóveis imaginários, ou tirando macacos do nariz.
Chegado o Ilídio, sentaram-se o Slash e o Axl no banco traseiro, e o chofer, sentindo que se tratava de uma emergência, evitou o IC 19 para chegar ao hospital, não sem que Axl o tivesse obrigado a parar numa estação de serviço para comprar outra Cergal. No hospital foram afanosamente recebidos por dois auxiliares de bata azul que imediatamente puseram uma pulseira laranja no pulso de Axl, até que este explicou que era uma bandana que tinha na cabeça, não uma ligadura ensanguentada, e que o dedo do sócio, por vezes amigo, não era um gesto malcriado para eles mas que estava apenas com dores excruciantes. Nunca se soube como Axl Rose conseguiu dizer "excruciantes" em português, mas os funcionários do Amadora-Sintra são inexcedíveis e poliglotas, pelo que lá acederam a tratar o guitarrista. Puseram-lhe um penso rápido e mandaram-no à sua vida, não sem antes lhe cravarem dois bilhetes para o espectáculo do dia seguinte.
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