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A mostrar mensagens de julho, 2018

The hitchhiker's guide to the galaxy

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Tinha uma mala vazia para pôr as recordações que teria.  Um livro de moradas em branco onde anotaria as dos amigos que faria.  Um mapa sem fronteiras, estradas ou nomes dos lugares onde iria.  Aproximou-se da bilheteira  e pediu um bilhete para o comboio. Ia viajar.  Não mencionou o destino. Não tinha.  Não especificou para quando era o bilhete. Não importava. Não planeava ter fome, frio ou cansaço. Consigo levava apenas música. Tocava dentro da sua cabeça.

Possuído

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    Alguma vez vos contei acerca daquela vez em que me transformei num coelho? Não? Não é de estranhar, não é coisa de que me gabe. Pois é, um coelho. Não acreditam? Perguntem ao ouriço cacheiro. Ele viu tudo.     Vinha do trabalho já de noite quando tive um furo. Muito aborrecido. Fiquei sem saber se devia mudar a roda ou chamar a assistência em viagem. Ainda por cima numa estrada deserta, longe de qualquer povoação, e sem iluminação. Enfim, não exactamente sem qualquer iluminação, a lua estava cheia, o luar iluminava claramente a roda do carro. Infelizmente, não a roda que estava furada, essa estava do outro lado, na sombra. Fiquei fora de mim! E foi nessa altura, enquanto estava fora de mim, que o coelho entrou. Assim, sem aviso. Fiquei fora de mim, enquanto o coelho tomava posse de mim. Senti-me deveras estranho, assim acoelhado. E assustado. Os coelhos não são criaturas particularmente corajosas, e numa noite escura, no meio do campo, menos ainda.    Não sei muito sobre coelhos, a

Mulherzinhas

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   Num prédio remodelado da zona baixa de Campo de Ourique viviam três amigas. Viviam em três apartamentos diferentes, o que não afectava a sua amizade. Uma era uma flausina, outra era uma sirigaita, e a terceira era uma galdéria. A sirigaita era habitualmente a primeira a chegar a casa. Entrava muito lampeira, verificava o correio e ia muito empertigada enfiar-se no elevador para subir ao primeiro andar, onde residia num t1 remodelado. Como o prédio. Passado um bocado chegava a flausina. Entrava sem cumprimentar a vizinha do rés-do-chão, e dirigia-se do modo mais expedito ao seu apartamento t0 com kitchenette. Remodelado. Umas vezes subia de elevador, outras vezes ia pelas escadas, se aquele não estivesse imediatamente disponível. Morava no primeiro andar, mesmo em frente da sirigaita, mas passava pela porta toda espevitada como se ali não morasse ninguém.     A galdéria chegava mais tarde. Como a sirigaita, verificava o correio, mas tinha o cuidado de pôr a publicidade não endereçada

A Greve Fofinha

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    É vulgar as greves serem focos de tensão e dissenção. É a sua função. São momentos de ruptura. Mas nem todas as greves são iguais.    Foi no Vale do Ave que eclodiu a greve numa fábrica de enchimento de almofadas. Os operários fabris, cansados do trabalho duro que era manusear sumaúma dias a fio, saíram à rua brandindo ursos de peluche e entoando palavras de ordem:     - Almofadas não, que trabalhe o patrão!     - Sumaúma, nem mais uma!    Reunidos os sindicalistas com a entidade patronal, foram trocadas palavras ásperas, quando se mandaram mutuamente lixar, o que provocou a escalada da situação. Os ursos de peluche foram trocados por cãezinhos que abanavam a cabeça e houve até quem usasse unicórnios de peluche.    Por seu lado a Polícia de Choque, convocada pela administração da empresa, fez avançar a sua unidade cinófila. Dezenas de guardas, acompanhados de cachorrinhos labrador e golden retriever, posicionaram-se na linha da frente, enquanto os manifestantes os provocavam agitan