A Greve Fofinha

   É vulgar as greves serem focos de tensão e dissenção. É a sua função. São momentos de ruptura. Mas nem todas as greves são iguais.
   Foi no Vale do Ave que eclodiu a greve numa fábrica de enchimento de almofadas. Os operários fabris, cansados do trabalho duro que era manusear sumaúma dias a fio, saíram à rua brandindo ursos de peluche e entoando palavras de ordem:
    - Almofadas não, que trabalhe o patrão!
    - Sumaúma, nem mais uma!
   Reunidos os sindicalistas com a entidade patronal, foram trocadas palavras ásperas, quando se mandaram mutuamente lixar, o que provocou a escalada da situação. Os ursos de peluche foram trocados por cãezinhos que abanavam a cabeça e houve até quem usasse unicórnios de peluche.
   Por seu lado a Polícia de Choque, convocada pela administração da empresa, fez avançar a sua unidade cinófila. Dezenas de guardas, acompanhados de cachorrinhos labrador e golden retriever, posicionaram-se na linha da frente, enquanto os manifestantes os provocavam agitando bolas de borracha e chinelos de algodão.
   Quando tudo parecia perdido e se temia o pior, surgiu  um homem carregando uma caixa. Colocou-se estrategicamente entre as duas facções e começou a vender bolas de Berlim com creme. O chefe do Conselho de Administração, que tudo observava da janela do seu gabinete, desceu para comprar duas bolas de Berlim, e quando um dos funcionários lhe emprestou 10 cêntimos para facilitar o troco, entabularam conversações que resultaram num acordo laboral em que aos funcionários foi concedido o direito de se sentarem em cadeiras de pau enquanto trabalhavam. É que as poltronas moles que costumavam usar lhes causavam dores nas costas.


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