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A mostrar mensagens de novembro, 2015

O trauma da pequena joana

   Flávia era uma linda joaninha. Mais ainda, era uma linda joaninha de 7 pintas, das mais comuns e ao mesmo tempo das mais lindas. Não caía no exagero das joaninhas de 12 pintas, essas vaidosas, nem no das de 2 pintas, essas desleixadas. Tinha 7 pintas e orgulhava-se, achava que tinha muita pinta. E as outras joaninhas também se achavam muito lindas. Tão lindas se achavam que andavam sempre bem brilhantes e ofuscantes, com as suas asas vermelhas com brilhantes pintas pretas. Outras cores não seriam aceitáveis, era absolutamente necessário conjugar bem as cores, e só o vermelho e o preto se adequavam. Nunca se tinha ouvido falar de uma joaninha amarela com pintas verdes, ou azul com pintas fucsia. Não seria correto. E as pintas também tinham que ser certas, círculos perfeitos e brilhantes. Nada de pintas ovais ou quadradas. Não seria correto. E assim andavam todas as joaninhas, sempre aprumadas e vistosas, vestidas à moda e muito serigaitas, sempre a esvoaçar de planta para p

O Pescado Mora ao Lado

  Silvina Silva não tinha culpa de ser uma bomba ruiva de formas voluptuosas. Um pouco como a Jessica Rabbit. Nem de atrair as atenções dos homens e a inveja das mulheres. Um pouco como a Marilyn Monroe. Mas Silvina tinha culpa de passar os dias na varanda do seu rés-do-chão a apanhar banhos de sol no Verão e a fazer step no Inverno, à vista de homens atentos e mulheres invejosas. No Verão com um bikini reduzido, no Inverno com um fato de licra roxo abundantemente transpirado. E foi assim que Silvina se tornou rapidamente uma das atracções da terra, que, como muitas outras terras pequenas, não tinha muito de atraente. A não ser Silvina Silva. Até já diziam que era um monumento. E foi assim que a rua onde morava SS passou a ser mais frequentada, como mais frequentada passou a ser a loja contígua ao subitamente conhecido apartamento térreo.    Era uma peixaria.   Naquela insignificante povoação do interior o consumo de peixe subiu subitamente, os níveis de ómega 3 dis

Honest John

    Era uma vez um político honesto.     Ah, lá está ele na reinação, dirão aqueles que me conhecem. Político honesto é coisa que não existe, só pode ser piada. Mas não. É mesmo assim. Também sou capaz de relatos sérios. Então recomecemos mas sem preconceitos, está bem?     Era uma vez um político honesto. Vivia honestamente entre faunos, unicórnios, dragões e outros personagens reais na Terra do Nunca, onde exercia a sua profissão de político honesto rodeado dos seus honestos assessores e conselheiros, nenhum dos quais parente ou conhecido, e que não auferiam vencimentos superiores à sua competência, qualificações ou responsabilidades. A nenhum deles estava atribuído mais do que um motorista e dois automóveis, porque isso seria fantasioso e irrealista. E o político honesto era estimado por todos porque tinha sempre em conta o bem estar do povo e tudo fazia para que este vivesse em paz, harmonia e com boas condições de vida.     Um dia Satanás ap

O pacato cidadão

   Severino Cássio é uma pessoa vulgar. Como eu, como os meus vizinhos, amigos, colegas de trabalho e milhões de outras pessoas por esse mundo fora. Não é rico nem pobre, não tem esqueletos no armário nem fetiches tenebrosos. É um vulgar chefe de família, com a sua esposa vulgar e os seus medianos 1,47 filhos que trata com regular cuidado e afeição. Almoça de pé num snack bar e tem um cão de porte médio que passeia depois do jantar quando vai despejar o lixo, além de jogar às cartas com os amigos aos sábados à tarde no clube desportivo onde é vogal da assembleia geral. Pessoa afável e bem disposta, que muitos respeitam e apreciam pela sua bonomia. Nem todos são apreciadores de bonomia e há quem gostasse de o ver destituído do seu cargo de vogal da assembleia geral, mas outra coisa não seria de esperar. Todos gostarem dele não seria normal, e Severino Cássio é uma pessoa vulgar. Tem um vulgar emprego de secretária numa seguradora onde trata de assuntos pouco interessantes e re

Mais Literatura Infantil

A Espada Mágica Há muitos, muitos anos vivia num reino distante um corajoso cavaleiro chamado Girimeu. O cavaleiro levava uma vida pacata, caçava veados, lebres, javalis, raposas, salvava donzelas em perigo e matava dragões. Certo dia, Girimeu foi procurado pelo feiticeiro negro para resolver um problema: descobrir uma espada mágica que estava num país luminoso e que tanta falta fazia aos habitantes do reino. É que este reino era aterrorizado por um malvado e perigoso dragão, que comia ovelhas e roubava criancinhas, enquanto que o seu bafo abrasador consumia as colheitas e torrava árvores de fruto e gado. E de tal sorte era esta peste, que até o feiticeiro, negro como era, por dentro e por fora, concordou em ajudar o cavaleiro e o povo com o seu conhecimento. E era de seu conhecimento que este dragão só poderia ser morto com uma espada mágica. - Partirei logo ao amanhecer. - disse com entusiasmo Girimeu. - Ide, mas tende cuidado, pois os perigos são muitos. – alertou o feiticeiro. Mal