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A mostrar mensagens de julho, 2017

Terrorismo

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   Bom Dia Portugal! Ou qualquer outro programa matinal de tv. Garantido o sucesso sempre que é transmitido ao vivo de qualquer aldeia ou vila. É certo que arrasta multidões, e isso é uma coisa perigosa nos tempos que correm.    Chamada telefónica:    - Polícia de Segurança Pública, bom dia.    - Escute com atenção, vou dizer isto apenas uma vez: há uma bomba no recinto de onde vão transmitir o Bom Dia Portugal.    Clique, chamada desligada.    O cabo Gonçalves ficou a princípio atarantado com a informação, mas rapidamente o seu treino de telefonista veio ao de cima e ligou por sua vez para a brigada de minas e armadilhas a comunicar a ocorrência. Uma voz profissional assegurou-lhe que estariam no local em menos de 15 minutos, e assim foi. Uma carrinha preta sem identificação chegou rapidamente e sem alarido e parou em frente do sargento Garcia, que superintendia a segurança da transmissão televisiva e desconhecia a ameaça. Vários indivíduos sairam rapidamente e rodearam-no.    - Sou o

Byblos

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   Há pessoas cujo papel na vida é lidar com papel. Há burocratas, encadernadores, tipógrafos, livreiros, alfarrabistas, fiscais de EMEL, ardinas, e jornalistas. Filomena era leitora. Lia apaixonadamente, quase compulsivamente, todo o tipo de livro que lhe vinha às mãos. Romances, novelas, ensaios, revistas, dramas, crónicas... De tudo gostava, tudo lia com prazer e sem cessar, mas do que mais gostava era dos autores consagrados. Dostoyevsky, Samuel Beckett, Voltaire, Cícero, Arthur C. Clarke, apreciava todos os géneros, nenhum lhe parecia menor ou menos interessante, e em todos achava motivo de prazer. Comprou livros até encher a casa, leu-os e releu-os. Visitou bibliotecas e requisitou os livros que pôde. Leu-os, devolveu-os e requisitou outros. Leu-os, devolveu-os e mudou de biblioteca. Habituou-se a ler no sossego e semi-escuridão dos esconsos da biblioteca. Arruinou os olhos. Tentou lentes de contacto, mas não eram suficientemente eficazes para tanta leitura. Comprou uns óculos.  

A destruição da selva amazónica

Era uma planta humilde e viçosa. Não achava nada de estranho no seu viço, porque a sua humildade a isso a obrigava. Possivelmente nem tinha consciência dele, nunca se comparara com outras plantas. A sua humildade nunca tal lho permitira. Aliás, nem nunca vira outras plantas. E isso seria estranho, para uma planta humilde e viçosa, crescer assim só, afastada de outras plantas. E facilmente se compreendia porque estava esta planta só: é que por capricho do destino ou interferência divina, nascera na Lua. Todos sabemos que na Lua não nasce nada, é um planeta estéril, feito de poeira e pedra, e lá não há espaço para plantas, por humildes ou viçosas que sejam. Todos conhecemos as fotografias, e em nenhuma delas se vê uma planta, mesmo pequena. Contudo, se raciocinarmos um pouco, compreenderemos que a Lua, embora apenas um mísero satélite natural, não foi completamente fotografada. Há ainda muitos sítios onde podem crescer plantas, longe dos olhares indiscretos de papparazzi lunares. Poder-s

Estultícia a rodos

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Houve em tempos que já lá vão, um senhor que já lá ia. - Já lá vou! - dizia. E sem saber aonde ia, dizia que iria onde podia. E se bem o dizia, melhor o fazia: ia, sem saber onde iria, e quando não podia, insistia, insistia, até que via que não conseguia. E ao ver que não conseguia, sentava-se e lia. Lia com alegria e tanto lia que dizia sem ironia: - Sou um homem culto. E embora fosse culto era contudo estulto, pois não percebia o que lia. Não esquecia o que lia, apenas não o percebia, e nem sequer compreendia que o que lia, não percebia, pois era apenas estultícia, não malícia, que fazia ironia onde ironia não havia. Ora tinha este homem estulto um primo que era astuto. E dizia o astuto ao estulto: - Priminho, - pois se tratavam com carinho - não sigas esse caminho. Tanta leitura dá muita cultura, mas chega uma altura em que a cultura pura e dura já não se atura. Bebe antes uma cerveja, faz algo que se veja. Aquilo que a gente deseja é que te entreguem numa bandeja tudo aquilo que al