Meia noite em ponto
Era meia-noite em ponto, faltava um quarto para a uma. Um ancião ainda moço Todo nú de mão no bolso Sentado em pé num banco de pau feito de pedra Lia um jornal sem letras À luz de um candeeiro apagado Que um caracol descia para cima. E nas letras que o jornal não trazia, dizia: "o mundo é uma esfera quadrada que gira parada em torno do sol, e enquanto as pachorrentas vacas voam de galho em galho andam os lindos passarinhos a pastar pelos campos de orvalho..." E lendo isto, a cega analfabeta gritou em surdina: - Prefiro matar-me do que perder a vida.